Vamos começar a entender esse assunto com um exemplo de fora da aviação. Para ensinar alguém a estacionar um carro você acha que é mais importante:
- Mostrar a alguém dezenas de vezes repetidamente como fazer uma baliza, ou;
- Transmitir conhecimentos ao motorista sobre o uso dos retrovisores e algumas estratégias para posicionar o veículo antes de entrar em uma vaga?
Já por volta de 10 anos, a IATA e diversas empresas aéreas no mundo começaram a perceber que era necessário alterar o modelo de treinamento para dar mais foco em competências do que em atividades e horas de treinamento.
“More than a decade ago the aviation training community started realizing the advantage of competency-based training and assessment (CBTA) in comparison to task- or hour-based training and assessment.”
IATA PAT, 3rd Edition, Abril 2019
Basicamente isso quer dizer que a aviação entendeu que é mais importante assegurar que os aviadores adquiram os conhecimentos, habilidades e atitudes necessários ao trabalho, do que quantas vezes quais manobras ou situações são treinadas.
O princípio básico é que se alguém conhece bem fundamentos, consegue aplicá-los às diferentes situações que enfrentar. Às vezes até sem nunca tê-las vivido.
É claro que a prática e a experiência precisam andar junto do desenvolvimento de competências, mas de nada adianta praticar muito algo da forma errada ou sem conhecer os motivos por trás daquilo.
Ao longo da formação de Piloto Privado e Piloto Comercial você provavelmente irá seguir um modelo tradicional de ensino onde é preciso realizar certas missões e manobras de forma a demonstrar o domínio em realizar essas atividades. Como dominar curvas de pequena, média e grande inclinação ao longo do PP, ou demonstrar consciência situacional para realizar um procedimento IFR ao longo do PC.
Mas onde exatamente na sua formação você estará sendo preparado para por exemplo tomar boas decisões? Qual matéria teórica é oferecida nos cursos de PP, PC ou INVA que explica metodologias de avaliação de risco?
O fato é que a formação aeronáutica básica ainda tem se pautado muito em questões técnicas muito específicas e pouco em uma compreensão mais sistêmica e abrangente sobre o todo que é ser aviador.
Competência é a combinação e coordenação que um profissional faz de seus conhecimentos, habilidades e atitudes.
Conhecimentos seriam a teoria que você acumulou, aqui entram as horas de “bunda na cadeira” da sala de aula e sua capacidade de absorver informações e técnicas, como por exemplo a teoria de voo ou regulamentos de aviação.
Habilidades são as suas capacidades em utilizar os seus conhecimentos teóricos para praticar algo, por exemplo conseguir conduzir bem a pilotagem com pé e mão ou se comunicar bem com outra pessoa.
Atitudes são a forma pela qual você se comporta no cotidiano e aqui estão os maiores desafios a boa parte dos profissionais.
Podemos ter total conhecimento sobre o avião que voamos, ter grande habilidade em controlar a aeronave exatamente como precisamos e queremos, mas se tivermos uma forma arrogante de falar com os outros poderemos ser vistos como profissionais piores que alguém que saiba pouco sobre a aeronave, tenha uma pilotagem ruim, mas que consiga motivar sua equipe e se relacionar bem com as pessoas de forma geral.
É importante então que você planeje sua formação levando em consideração as seguintes questões:
- Quais são os conhecimentos teóricos que você precisa adquirir para ser um bom piloto?
- Quais são as habilidades que os pilotos mais bem sucedidos do mercado têm?
- Quais as atitudes que um profissional precisa ter na aviação hoje e ao longo dos próximos anos para ter empregabilidade e reconhecimento?
Para guiar as competências que você pode desenvolver, estou compartilhando uma série de dicas da IATA e da ICAO no Instagram do Piloto Completo. Acompanhe a série ICAO PIlot Skills e me conte tudo aquilo que você não aprendeu com sua escola ou aeroclube.
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