O ser humano não foi feito para voar, mas isso não nos impediu de chegarmos até aqui.
A ideia de voar foi por séculos só uma fantasia para o ser humano. Mas somente alguns anos depois dos primeiros aviões voarem nós já estávamos cruzando países inteiros com aviões cada vez maiores e mais velozes. Apesar de vencermos inúmeras barreiras e limites até chegarmos no voo como conhecemos hoje, onde cruzamos continentes e oceanos inteiros com o mais alto nível de segurança e tecnologia, apenas um limite persiste: nós mesmos.
Voar um avião é uma tarefa de risco. Com o nosso aprendizado e avanço na tecnologia nós mitigamos os riscos e tornamos o voo, além de viável, essencial para a humanidade. Sem aviões a sociedade enfrentaria inúmeras dificuldades. Mas diferente dos riscos de voar, nossos limites fisiológicos parecem invencíveis, nos restando apenas nos adaptar para as exigências. Nós voamos porque precisamos e também porque amamos a profissão, mas o ser humano não foi feito para voar.
Caminhar, correr e manter o equilíbrio de pé parece simples, mas no cotidiano nós esquecemos que, além das pernas e da visão, nós precisamos dos nossos ouvidos para nos movimentar. É do Sistema Vestibular em nosso ouvido interno que vem a informação de percepção de espaço e movimento. Nele temos um líquido chamado de Perilinfa. Conforme nos movimentamos, esse líquido se movimenta junto. A sensação de queda, a visão girando e até a labirintite estão ligados diretamente ao comportamento desse líquido. Em solo firme ele é nosso aliado, mas ao pilotar um avião ele pode nos colocar em grande perigo.
Quando a pé, ao sentirmos qualquer sensação de desequilíbrio, o que recalibra nossa percepção de espaço e movimento é a nossa visão. Quando em voo VFR, nossa maior referência para controlar o avião em seus três principais eixos é o horizonte. Em ambos os casos, sem a informação visual a nossa percepção de espaço e movimento fica completamente limitada às informações do sistema vestibular e também um pouco do tato, como a nossa postura e a sensação da posição de algumas partes de nosso corpo em relação às outras.
Para fazer uma curva, nós puxamos um pouco o manche para manter a altitude. Sem informação visual, você teria a sensação de que o avião está subindo invés de curvando. Isso porque nosso aparelho vestibular não é bom em perceber rapidamente movimentos sutis, como o de adicionar bank para fazer uma curva. A força G da manobra é muito mais perceptível, dando a sensação de subida. Ao reduzir o bank nós cabramos um pouco o manche para manter a altitude, dando a sensação de descida. Se o piloto se desorientar enquanto voa manualmente o avião, ele pode entrar num alto ângulo de bank sem sequer perceber.
Muitos acidentes, infelizmente, ocorreram por desorientação espacial. Em muitos deles o avião atingiu ângulos de inclinação totalmente além dos limites de uma operação normal, sem que o piloto percebesse a tempo. Em alguns casos o piloto, por ilusão de perder o controle do avião, se colocou em situação de perda de controle, quando na verdade estava em voo estabilizado. Nós não podemos eliminar completamente o risco de entrar em desorientação espacial no voo, mas podemos reduzir muito as chances de sermos vítimas dela.
As condições mais favoráveis para a desorientação espacial são em voos noturnos e voos IMC. Nesses voos nós evitamos a desorientação espacial confiando plenamente nos instrumentos e tomando ações a partir do que eles nos mostram. Nessas condições, o piloto automático é um ótimo aliado para manter o avião estável enquanto gerenciamos o voo como um todo. Mesmo assim não estamos livres do que o nosso sistema vestibular percebe e diz ao nosso cérebro. Qualquer distração e nós podemos tomar uma ação totalmente desfavorável para o voo estabilizado.
Se acontecer de você ficar desorientado, o que pode te ajudar é focar o seu olhar no horizonte artificial do ADI e manter a cabeça firme. Uma vez que o horizonte esteja recuperado, entenda o que os outros instrumentos estão indicando. Se o climb está indicando razão de subida ou descida, se o HSI está indicando curva ou não e se o velocímetro está dentro da faixa normal. Você pode até mesmo dizer em voz alta o que está entendendo dos instrumentos. Isso vai te ajudar a recalibrar sua percepção de espaço e movimento e também pode te ajudar a recuperar sua consciência situacional.
Você já passou por desorientação espacial em algum voo? Se sim, quais ações tomou para sair dela e recuperar o voo? Quais medidas você toma para evitar a desorientação espacial? Compartilhe conosco.
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